Neste domingo, 24 de novembro, a Igreja Católica celebra a Festa de Cristo, Rei do Universo, marcando o encerramento do Ano Litúrgico. Em artigo publicado, bispo da Diocese de Osório, dom Jaime Pedro Kohl, compartilhou reflexões sobre o significado dessa solenidade, destacando que o reinado de Jesus Cristo transcende as dimensões terrenas de poder e autoridade.
Dom Jaime enfatiza que a celebração não carrega um sentido triunfalista nem político, mas aponta para um reino fundamentado no serviço, amor, misericórdia e compaixão. A realeza de Jesus, descrita no Evangelho, é contrastada com os padrões humanos, sendo marcada pela doação total, exemplificada em sua morte na cruz.
“A cruz foi o trono de Jesus, e sua coroa, feita de espinhos, simboliza um reinado que privilegia os excluídos, marginalizados e desprestigiados da sociedade”, destacou Dom Jaime. Ele lembrou a resposta de Jesus ao malfeitor crucificado ao seu lado – “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” – como um testemunho do Reino que oferece reconciliação e vida plena à humanidade.
O bispo sublinhou ainda que o Reino de Cristo é uma realidade presente, mas não completamente manifestada. “Por isso, rezamos no Pai-Nosso: ‘Venha o teu Reino’. É uma construção constante, que exige de nós uma busca incansável pela justiça e fidelidade à vontade de Deus”, disse.
Ao refletir sobre o Sermão da Montanha, Dom Jaime reforçou o chamado de Jesus: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça”. Esse convite aponta para uma vida de fé, confiança e compromisso com os valores do Evangelho.
A celebração de Cristo Rei convida os cristãos a meditarem sobre qual é o lugar de Jesus em suas vidas e como estão contribuindo para a construção desse Reino de amor, paz e justiça. Com um olhar esperançoso, Dom Jaime conclui: “Ao vivermos conforme os ensinamentos de Cristo, participamos da realização de um Reino que transforma o mundo e nos conduz à plenitude da vida em Deus”.
Leia na íntegra:
O Reinado de Jesus
Neste domingo, último do Ano Litúrgico, celebramos a Festa de Cristo, Rei do Universo. Ao colocar essa celebração na conclusão do ano litúrgico, a Igreja busca mostrar como tudo converge para a glorificação daqueles que procuram o Reino de Deus e cumprem a sua santa vontade.
Essa não é uma celebração triunfalista, nem possui um sentido político, social ou econômico, como frequentemente observado nos governos monárquicos. A realeza de Jesus não se caracteriza por imposição, força ou controle, mas por serviço, amor, misericórdia e compaixão.
Sabemos que Jesus não recorreu ao poder quando provocado pelos judeus, mas, ao ser implorado pelo malfeitor – “Lembra-te de mim quando estiveres no teu Reino” –, garantiu: “Hoje mesmo você estará comigo no paraíso”. Portanto, trata-se de um reinado muito diferente do que é meramente humano.
Pela morte na cruz, Jesus adentra a posse do Reino preparado pelo Pai. O Reino de Cristo tem início no momento de máxima exigência de doação, na hora da cruz. Na visão de Lucas, é nesse instante que ocorre a reconciliação da humanidade com o Pai.
Quando questionado se era rei, Jesus jamais negou. Contudo, para os atentos, não era difícil compreender que seu Reino não era deste mundo. Jesus é um Rei-Servo, que veio “para servir e não para ser servido”, para doar sua vida “em resgate por muitos” e para que “todos tenham vida e a tenham em abundância”.
Que reinado é esse que tem como trono uma cruz e como coroa uma de espinhos? O reinado de Jesus é formado por verdade e vida, santidade e graça, justiça, amor e paz. Os preferidos desse reinado são os desprestigiados, excluídos e marginalizados da sociedade.
Outro aspecto interessante da realeza de Jesus é que ela já está presente, mas ainda não plenamente manifesta e realizada. Tanto é que o próprio Jesus, na oração do Pai-Nosso, nos ensinou a pedir: “Venha o teu Reino”. É um Reino iniciado por Ele e em constante construção.
No Sermão da Montanha, Jesus conclui sua mensagem exortando: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será acrescentado” (Mt 6,33). Trata-se, portanto, de algo a ser buscado continuamente, com uma atitude de fé e abandono em Deus. Certos de que, ao nos esforçarmos por viver em conformidade com a vontade do Pai, nada nos faltará daquilo que é essencial.
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório“