Acervo histórico da Mitra Diocesana de Osório, com registros civis únicos desde 1773, incluindo documentos sobre pessoas escravizadas, está em restauração e deverá ser disponibilizado ao público em plataforma online até o final do primeiro semestre de 2026.
Um tesouro documental que guarda a memória de mais de um século da vida civil no Litoral Norte do Rio Grande do Sul está sendo salvo da ação do tempo. O Patrimônio Documental da Mitra Diocesana de Osório, composto por 758 volumes manuscritos que datam de 1773, passa por um minucioso processo de restauração e digitalização. A iniciativa, aprovada integralmente pela Lei de Incentivo à Cultura do Estado (Sistema Pró-Cultura/RS), garantirá não apenas a sobrevivência física dos documentos, mas também o acesso democrático a esta fonte primária de pesquisa histórica.
Para o bispo da Diocese de Osório, dom Jaime Pedro Kohl, “a importância deste trabalho é imensurável. Por mais de cem anos, os registros de nascimentos, casamentos, óbitos e informações sobre pessoas escravizadas, foram mantidos exclusivamente nestes livros pela Igreja. Trata-se do único registro oficial da vida civil da região nesse período, tornando o acervo uma peça fundamental para a compreensão da formação social e histórica da região e do estado.”.
PROCESSO DE RECUPERAÇÃO
Desde que os 758 volumes, mais 34 itens adicionais, chegaram ao Ateliê de Restauro em Curitiba, em 7 de fevereiro de 2024, equipes especializadas executam um trabalho detalhado e técnico. O progresso, até o momento, demonstra o cuidado em cada etapa.
De acordo com as restauradoras Denise Zanini e Gessonia Carrasco, a primeira etapa foi a de Higienização e Proteção e já está 100% concluída, focando na sobrevivência do material.
“Todos os 792 volumes passaram por desinfestação para eliminar insetos xilófagos (brocas) e desinfecção para erradicar fungos. A limpeza mecânica removeu detritos e elementos nocivos, como clipes e fitas adesivas antigas.”.
O Reparo Estrutural, fase de recuperação da integridade do papel avançou significativamente. Em 104 livros, foram concluídos o tratamento químico contra a acidez do papel e a corrosão da tinta ferrogálica, além da laminação com papel japonês para dar mais resistência às folhas. O processo de reenfibramento, que preenche as perdas de suporte com polpa de papel, foi finalizado em 51 volumes. Atualmente, 80% dos pequenos reparos, como a consolidação de rasgos, estão concluídos em todo o acervo.
A Finalização e Acesso, etapa de encadernação, que inclui costura dos cadernos e douramento das lombadas, atingiu a marca de 50%. Paralelamente, a digitalização está avançada, com 90% do trabalho concluído em 155 livros. Já a classificação arquivística, que organiza os documentos e cria o banco de dados para consulta, está 100% finalizada, preparando o terreno para o acesso público.






ACESSO DIGITAL
O acervo estará disponível de forma on-line garantindo que a história preservada não fique restrita a arquivos físicos

Para que a riqueza de informações do acervo possa ser consultada por pesquisadores, estudantes e pelo público em geral, um site está sendo desenvolvido pelo Grupo A Rede. A plataforma digital é um dos pilares do projeto, garantindo que a história preservada não fique restrita a arquivos físicos.
Conforme explica o coordenador de Projetos Multimídia do Grupo A Rede, Andrew Murillo Cerqueira, o objetivo é criar uma ferramenta funcional e intuitiva.
“Para nós do Grupo A Rede é muito significativo desenvolver o site do acervo histórico da Diocese de Osório. Nosso objetivo é criar uma plataforma que ofereça um acesso facilitado a documentos importantes, atendendo tanto pesquisadores como estudantes e pessoas que buscam informações, seja por motivos científicos ou até mesmo de um interesse pessoal de alguma forma por curiosidade”, explica o profissional.
De acordo com Andrew, o projeto está em fase final de implementação, o layout foi desenvolvido em conjunto com a equipe de comunicação da Diocese e da equipe da Lahtu Sensu Administração Cultural, buscando transmitir uma identidade histórica, mas também mantendo um estilo moderno.
“No aspecto técnico, nós estamos implementando uma integração via API com o sistema ABCD, que é um robusto software bibliotecário. Isso vai permitir que já na página inicial, o usuário tenha acesso direto ao buscador e possa localizar os documentos em poucos cliques, tornando a experiência uma experiência ágil e eficiente”, revela o coordenador.
Embora a previsão inicial fosse concluir o projeto no final de 2025, o cronograma foi reavaliado, e a nova data de entrega está prevista para o final do primeiro semestre de 2026. A prorrogação do prazo, que será formalmente solicitada à Lei de Incentivo à Cultura do Estado (LICRS), se justifica pelos desafios técnicos do restauro, como o tratamento e a secagem dos papéis, agravados por um ano atipicamente chuvoso e maior infestação do material em relação ao inventário inicial. Com a nova programação, o projeto não apenas preservará documentos de valor incalculável, como também ampliará as possibilidades de pesquisa sobre o Litoral Norte gaúcho, oferecendo às futuras gerações ferramentas essenciais para compreender seu passado.
FOTOS: ARQUIVO ATELIÊ DE RESTAURO
Fonte: Ascom Diocese de Osório / Melissa Maciel